Sunday, February 03, 2013

Sou feito de poeira estelar


Sou feito de poeira estelar.

Material multi-poli-inter-intra-hiper-diversificado,
com espaços para todas as diferenças e paradoxos cabíveis em uma só singularidade.

Na interface entre singular, plural e comunal é gerada a minha autoimagem, que longe ainda de ser total e primordial, caminha pelas dimensões "presente" com fissuras e rabiscos de tempos que já se foram e que ainda não chegaram.

Tento não ter sentido algum, apenas sentir, praticando a percepção do observador que se esconde de mim, em mim.
Quero desintegrar esta interface para atingir uma comunicação além da semântica, além das representações, uma existência instantânea e potente.

Devir seja talvez este estado pré-sentido, pré-significado, em que nenhuma imagem pode vestir a verdade.
Deve ir e rir de si até estourar os pulmões e gerar novos universos para habitá-los todos a uma só vez, sem culpa ou ressentimento por não ser mais “individuo”, sem essência alguma, sem princípio organizador, apenas existindo e perpetuando o movimento que não deixa dúvidas e não propõe certezas.

Ah esta vontade de me dissolver no todo e ver o mundo pelos olhos de tudo que existe, tudo de uma só vez, sem tempo para julgamentos ou categorizações. Sem espaço para concretudes.
Quero esquecer o que e quem sou em prol da possibilidade de não ser absolutamente nada. Diluir, esquecer, devir, existir, ser atravessado por infinitas possibilidades que permanecem em seu estado latente, potente e não manifesto.

Singularidade é um existir em forma de buraco negro, por onde tudo passa sem deixar vestígios, sem destino certo, se pretensão alguma, apenas sendo o prazer de atravessar e ser atravessado em um contínuo perpétuo.

Esta tridimensionalidade repressora na qual me encontro neste exato momento deve existir somente para criar em mim este sonho, esta necessidade, este movimento em direção ao “devir tudo sem nada dever.”