Friday, May 27, 2005

redação feita por uma aluna do curso de Letras da UFPE

Esta é uma redação feita por uma aluna do curso de Letras da UFPE
(Universidade Federal de Pernambuco - Recife), que obteve vitória em
um concurso interno promovido pelo professor titular da cadeira de
Gramática Portuguesa.


Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se
encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto
plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o
artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas
com um maravilhoso predicado nominal. Era ingênua, silábica, um pouco
átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios
de linguagem, fanáticos por leituras e filmes ortográficos. O
substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num lugar sem
ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a se
insinuar, a perguntar, a conversar. O artigo feminino deixou as
reticências de lado, e permitiu esse pequeno índice.

De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou o
substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos. Pouco
tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador
recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára
justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão
verbal, e entrou com ela em seu aposto. Ligou o fonema, e ficaram
alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave
e envolvente. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com
gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele
começou outra vez a se insinuar. Ela foi deixando, ele foi usando seu
forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo, todos
os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto.
Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário,
e ele sentindo seu ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão
minúscula, que nem um período simples passaria entre os
dois.

Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula ele
não perdeu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo.
É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente
oxítona às vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros. Ela
totalmente voz passiva, ele voz ativa.

Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando
cada vez mais: ficaram uns minutos nessa próclise, e ele, com todo o
seu predicativo do objeto, ia tomando conta.
Estavam na posição de primeira e segunda pessoas do singular, ela era
um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome
do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular.

Nisso a porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício.
Ele tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções e adjetivos nos
dois, que se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições,
locuções e exclamativas. Mas ao ver aquele corpo jovem, numa
acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar diminuiu
seus advérbios e declarou o seu particípio na história.

Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora
por todo o edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou, e mostrou o seu
adjunto adnominal. Que loucura!. Aquilo não era nem comparativo: era
um superlativo absoluto. Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa
maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus
objetos.

Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo
ao seu tritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-trois. Só que as
condições eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria
ao gerúndio do substantivo, e culminaria com um complemento verbal no
artigo feminino. O substantivo, vendo que poderia se transformar num
artigo indefinido depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu
colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu
conectivo, jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais
fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção
coordenativa conclusiva.

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